terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Segredos de Um Funeral

“Já havia esquecido que para cada um cara como eu existe um como você.” (Felix Bush)


Felix Bush (Robert Duvall) tinha um desejo: gostaria de fazer imediatamente os preparos do seu funeral. De idade já avançada, talvez profetizando uma breve saída do mundo dos vivos, Bush resolve organizar tudo antes que seja tarde demais. Além dos preparativos corriqueiros de um funeral como caixão, flores, etc., este estranho senhor fez mais uma exigência ao proprietário da funerária, senhor Frank Quinn (Bill Murray): uma festa. Isso mesmo, uma festa fúnebre, e todos que tivessem uma história pra contar a respeito do anfitrião Bush estariam convidados, até mesmo porque o dono da festa teria um plano especial para aquele dia.

Entretanto, a trama, por mais que já pareça estranha, ainda possui outros elementos interessantes: o Senhor Bush é um ermitão, vive a mais de quarenta anos isolado em uma cabana distante da cidade. Os moradores da cidade colecionam histórias terríveis a seu respeito. Conhecido por sua valentia e crueldade, não possui amigos, apenas as impertinentes crianças aparecem em sua propriedade, na maioria das vezes para praticar um de seus esportes preferidos: quebrar vidraças e sair correndo, fato que irrita ainda mais o velho recluso.

Mas, porque aquele homem vive tão isolado? Porque montar uma festa em seu funeral quando ainda se está vivo? E, da forma como não é muito bom em fazer amizades, alguém aparecerá em sua festa de despedida? Para resolver o possível problema de falta de convidados, Bush resolveu então sortear no dia da festa seu “mundão de terras”, assim, conta a história - pois este é um filme baseado em fatos reais acontecidos no distante Tennessee, por volta do ano 1938 – que cerca de dez mil pessoas compareceram a tal festa fúnebre. 

Aguardamos pacientemente e ansiosamente pelo desfecho desta trama. E, acompanhar os pouco mais de cem minutos deste interessante trabalho do diretor Aaron Schneider não é nenhum sacrifício, pelo contrário, é um verdadeiro prazer contemplar as boas atuações de Robert Duvall, Lucas Black, Bill Murray, Sissy Spacek, Gerald McRaney e Bill Cobbs. Sem deixar passar o ótimo trabalho com figurino e fotografia. 

Curioso para saber que segredo é este?


Título original: (Get Low)
Lançamento: 2009 (EUA)
Direção: Aaron Schneider
Atores: Robert Duvall, Sissy Spacek, Bill Murray, Lucas Black, Bill Cobbs, Gerald McRaney, Lori Beth Edgeman, Scott Cooper, Andy Stahl
Duração: 103 min
Gênero: Drama

Ray Charles

Hit the road, Jack and don't you come back no more,
(Caia na estrada, Jack e não volte nunca mais,)

no more, no more, no more

(nunca mais, nunca mais nunca mais)

Hit the road, Jack and don't you come back no more

(Caia na estrada, Jack e não volte nunca mais)

What you say?

(O que você disse?) 
         Música:  Hit The Road Jack  (Caia Na Estrada Jack)


Ray Charles Robinson (Jamie Foxx) nasceu nos anos trinta na Georgia, um Estado Norte-americano racista. Negro, pobre, pai ausente, e cego. A vida não foi fácil para este homem que se tornou ícone da música mundial. 

Obrigado a digerir traumas da infância e lições que sua mãe, Aretha Robinson (Sharon Warren) sempre fez questão de lhe ensinar, pois não queria que seu filho fosse humilhado algum dia e chamado de aleijado. Ray sempre tentou seguir a risca os mandamentos da mãe, principalmente naquele que foi seu maior desafio: o vício em heroína. 

Um prematuro desembarque em Seatle, aonde buscava iniciar sua carreira musical, ou mais que isso, tentava se manter economicamente independente, o que já seria uma grande vitória naqueles dias para um negro cego. Seu talento logo foi percebido, e mesmo  sabendo que deveria se esforçar bastante para não ser enganado por pessoas mal intencionadas, ainda assim, nem sempre conseguia impedir que aproveitassem do seu dom. 

Ao longo das mais de duas horas de filme podemos acompanhar, através do ótimo trabalho de Jamie Foxx, os erros e acertos de Ray, sua habilidade e criatividade, seu crescimento e reconhecimento, sua relação com o movimento anti-racismo que aflorava nos Estados Unidos naqueles anos, sem esquecer a conturbada relação com as mulheres que sempre estiveram perto do astro; desde sua esposa, Della Bea (Kerry Washington), até Margie (Regina King), uma de suas cantoras. Porém, o que mais atrai nossa atenção, além da constante relação de Ray com o passado; seja com a mãe ou com o irmão morto prematuramente, é exatamente sua dependência química. Mal que parece ser um preço caro demais que alguns artistas andam pagando pelo sucesso. 

As seis indicações ao Oscar do ano de 2005 atestam a qualidade da obra cinematográfica. Destas indicações conseguiu faturar nas categorias de Melhor Mixagem de Som e Melhor Ator, prêmio merecido ao ótimo trabalho de Jamie Foxx. Entretanto, não devemos assistir a este filme em virtude apenas das suas premiações ou qualidade técnica, mas sim, por ser uma perfeita oportunidade de conhecer um pouco mais da vida daquele que reinventou a soul music.


Título original: (Ray)
Lançamento: 2004 (EUA)
Direção: Taylor Hackford
Atores: Jamie Foxx, Kerry Washington, Regina King, Clifton Powell.
Duração: 153 min
Gênero: Drama

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Cavalo de Guerra

“Continue cuidando do Joey e ele sempre cuidará de você”  Rose Narracot


Spielberg vez ou outra recebe críticas dos cinéfilos por estar cada vez mais dirigindo e principalmente produzindo filmes “pipocas”. Não deixam de conter verdades nestas críticas, tanto é que dos seus últimos trabalhos apenas o Além daVida (que só produziu) é muito bom, pois o restante navega entre o “não tenho outra opção” e “que filme foi este que acabei de assisti mesmo?”. Mas, devemos confessar que em matéria de entretenimento e emoção o velho cineasta de Cincinnate não deve nada a ninguém.

Não precisa de atores de ponta, ou uma super trama, o fato é que o Midas do cinema consegue transformar em sucesso grande parte das obras que produz ou dirige. Não é a toa que quase todo ano tem trabalhos indicados pela Academia, e este ano não poderia ser diferente: apenas chegou perto com a animação As Aventuras de Tintim, mas emplacou a indicação de Melhor Filme com Cavalo de Guerra

Uma história banal, até mesmo clichê (para o fantástico mundo dos filmes, é claro), mas que consegue capturar o espectador, principalmente a performance do cavalo. Quem sabe não deveriam indicá-lo na categoria Melhor Ator! 

É a história do jovem Albert (Jeremy Irvine), que vê o animal por quem se apegou ir para a guerra, mas que ainda mantém viva a esperança de revê-lo um dia. E todas suas ações estão direcionadas para este objetivo. O outro personagem - Joey, o cavalo - dotado de uma simpatia e coragem extraordinária, enfrentará todos os perigos e tragédias que uma guerra pode proporcionar para tentar se manter vivo. 

Talvez o segredo de Cavalo de Guerra tenha sido, além da qualidade técnica, não se prender apenas em dois personagens principais. A cada instante que Joey entrava na vida de alguém, seus mais belos sentimentos eram revelados e potencializados. Imaginávamos nós, sentados no conforto da poltrona do cinema: como seres humanos tão amorosos são capazes de fazer guerras tão cruéis como estas? No final concluíamos decepcionados que o cavalo era de longe o ser mais inteligente da história!

Melodramático, sim confessemos, porém emocionante! Talvez não seja o suficiente para levar a estatueta deste ano, mas é o necessário para nos deixar satisfeito, basta não sermos exigentes em demasia.


Título original: (War Horse)
Lançamento: 2011 (Estados Unidos)
Direção: Steven Spielberg
Atores: Jeremy Irvine, David Thewlis, Emily Watson, Peter Mullan.
Duração: 146 min
Gênero: Guerra

Goeth!

“Apenas o amor mantém o mundo unido em sua essência” Goeth


“ Enquanto ela falava, como eu me deletei em fitar os seus olhos negros! Como toda minha alma era atraída pelos seus lábios cheios de vida, suas faces frescas e animadas! Quantas vezes, absorvido em minha admiração pelo sentido das suas frases, sequer cheguei a ouvir as palavras de que ela se servia!” Não, este trecho não foi extraído do filme, mas sim do livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther” que tem profunda relação com a película.

Uma das inúmeras vantagens de assistir filmes sobre escritores ou filósofos é que sempre recorremos aquele livro empoeirado na estante ou aos books perdidos na rede. No caso deste filme a leitura do livro citado acima só tem a contribuir para amplificar o sentimento do personagem, um sentimento muito fácil de adivinhar: a paixão, é claro!

Johann Goeth (Alexander Fehling) é um jovem aspirante a escritor, porém existem duas pequenas barreiras que o impedem: a falta de habilidade para o ofício e o espírito protetor do pai que, já sabendo da sua inabilidade com as letras, o convence a desistir da idéia de escrever, ainda mais sem rima! É assim que Johann Goeth vai parar em Wetzlar, uma cidadezinha do interior da Alemanha aonde deveria aprender o ofício do Direito.

Na pequena vila o ex-aspirante a escritor logo faz amizade com Wilhelm Jerusalem (Volker Bruch), outro romântico inveterado. Goeth percebe também que deverá trabalhar muito para satisfazer seu chefe Albert Kestner (Moritz Bleibtreu). Porém, aquela vila guardava mais que trabalho burocrático, funcionários puxa-saco e chefes exigentes, foi o que descobriu aquele que mais tarde escreveria o celebre Fausto, ao conhecer a bela Charlotte Buff (Miriam Stein). Mas uma história de amor não é uma história de amor se não tiver seus obstáculos, barreiras, sofrimentos, fantasias, paixão, abdicação...

E a barreira desta história de amor é a mais comum de todas, como disse o amigo de Goeth: “rapaz se apaixona por garota que está prometida a outro rapaz rico”. Desta trama não lhes resta apenas saber seu desfecho, mas sim o meio, afinal, quem sabe não tenha nascido daí aquilo que conhecemos hoje por romantismo.

Título original: (Goeth!)
Lançamento: 2010 (Alemanha)
Direção: Philipp Stölzl
Atores: Alexander Fehling, Miriam Stein, Moritz Bleibtreu, Volker Bruch, Burghart Klaußner, Henry Hübchen
Duração: 100 min
Gênero: Drama

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Melancolia


“Quando tento caminhar, sinto um fio de lã, cinza e grosso, enrolado às minhas pernas” (Justine)


Lars Von Trier é um diretor que valoriza como poucos nosso tempo, suas obras são verdadeiros tratados poéticos, psicanalíticos e filosóficos. Raros são os diretores que conseguem dizer tanto em tão pouco tempo, contar várias histórias em uma só. Se Anticristo já foi um filme chocante e revelador, Melancolia consegue ir alem. Desta vez é mais que triste ou assustador, é extremamente realista, apocalíptico  e humano.

Casar com alguém especial em uma bela cerimônia talvez seja o sonho da maioria das mulheres, mas Justine (Kirsten Dunst) não estava feliz. Sua família estava presente, seu noivo a amava, a cerimônia estava sendo realizada em um bonito palácio, acabara de ser promovida ao cargo de diretora de artes no trabalho, mas, ainda assim, Justine não estava feliz. Quem sabe Gaby (Charlotte Rampling), sua mãe que não fazia questão de esconder o pessimismo e mal humor, saberia dizer o porquê da estranha tristeza de Justine naquele instante que deveria ser o mais feliz da sua vida.

Um prólogo repleto de belas imagens, prática comum do diretor, seguido de um primeiro capítulo que traz à tona a superficialidade das relações e alegrias humanas, tão bem retratadas em Justine, e por fim, chegamos ao segundo capítulo. Aqui é Claire (Charlotte Gainsbourg) que apresenta seus dramas, ás vezes os mesmos que também nos atormentam diariamente. Claire está temerosa quanto a perigosa proximidade do planeta Melancolia, o Viajante. Segundo os cientistas, e seu marido John (Kiefer Sutherland), o planeta apenas chegará próximo á Terra e não trará risco aos humanos, não passando de um grande evento cósmico. Revirando sites e informações catastróficas, Claire então se desespera, diferentemente de Justine que sempre se matem calma, ou do pequeno Leo (Cameron Spurr) ávido para apreciar a chegada do Melancolia.

O que você faz diante da iminente catástrofe, diante do fim? Se desespera, se conforma, fechar os olhos e finge que está tudo bem? Quais são seus mecanismos de defesa? 

Interpretação, trilha sonora fotografia e roteiro são os pontos fortes do filme, mas não superam o maior destaque das obras de Lars Von Trier: a abertura para a reflexão. Definitivamente um dos melhores filmes de do ano de 2011. 

Só nos resta agora esperar ansiosamente pela próximo feito do diretor dinamarquês.    



Título original: (Melancholia)
Lançamento: 2011 (Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Suécia)
Direção: Lars von Trier
Atores: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling, Cameron Spurr
Duração: 130 min
Gênero: Ficção Científica

A Invenção de Hugo Cabret


“Se você já imaginou de onde vem seus sonhos, então olhe em volta, pois é aqui que eles são feitos.” ( Méliès)


Uma bela homenagem ao cinema, melhor ainda por ter sido feita por um diretor que domina muito bem esta arte, o grande Martin Scorsese. Recordista de indicações deste ano – um total de onze – A Invenção de Hugo Cabret é um filme com um roteiro simples, emocionante e aventureiro. Por mais que remonte a história de um tema adorado por adultos, que é o cinema, ainda assim, podemos dizer que as crianças também aprovam a película. Porém, arriscaria afirmar que este é o azarão na corrida pelo prêmio de Melhor Filme deste ano.  

Baseado no livro homônimo de Brian Selznick escrito em 2007, este filme conta parte da história de um dos “pais” desta arte, o famoso Georges Méliès idealizador de Le voyage dans la lune (Viagem à lua) levado ao público nos longínquos anos de 1902. Ao mesmo tempo em que nos apresenta cenas de alguns clássicos do cinema, filmes que só encontraríamos em documentários ou em acervo de sortudos colecionadores, como: “A Chegada do Trem na Estação”, além do “Viagem à Lua”, dentre outros.

Mas como o mestre Scorsese nos contaria esta história? Através do jovem garoto órfão Hugo Cabret (Asa Butterfield), filho de um relojoeiro (Jude Law), morto tragicamente. Arrastado abruptamente para conviver com seu tio beberrão, Hugo levou consigo algo que mantinha viva a memória de seu pai, um autômato, espécie de boneco de corda que tentavam consertar antes do trágico acidente. 

Logo o jovem Hugo percebeu que deveria ter algumas preocupações diárias além de tentar consertar sozinho o velho autômato, pois guardava a esperança de ter nele escondido uma mensagem do seu pai. Também deveria dar corda em todos os relógios da estação de trem, local para onde foi levado pelo tio beberrão. Além disso, devia esquivar-se do temível inspetor responsável pela Estação de Trem e exímio caçador de órfãos, o irreconhecível Sacha Baron Cohen - o mesmo dos engraçadíssimos Bruno e Borat. Sem mencionar o enigmático proprietário da loja de brinquedos de onde Hugo sorrateiramente roubava peças para consertar o autômato. Temos ainda a intrépida e sedenta por aventura Isabelle (Chloe Moretz), que só teria a acrescentar na vida daquele órfão persistente.

Além das aventuras, dos bons atores e dos efeitos 3D, finalmente elogiado pelo público, temos também uma pequena história paralela que se desenvolve na Estação: um simpático senhor que tenta incansavelmente cortejar uma senhora, mesmo sendo inúmeras vezes impedido pelo seu cão. Talvez uma singela amostra dos enredos simples e engraçados que inundavam as salas de projeção durante os primeiros anos do cinema.  
Parabéns Scorsese, parabéns Méliès e Irmãos Lumière. Viva ao Cinema!


Título original: (Hugo)
Lançamento: 2012 (EUA)
Direção: Martin Scorsese
Atores: Asa Butterfield, Chloe Moretz, Emily Mortimer, Jude Law, Sacha Baron Cohen, Christopher Lee, Ben Kingsley.
Duração: 126 min
Gênero: Aventura

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Elefante


“Nunca vi um dia tão triste e belo.” (Eric)


Vez ou outra nos deparamos com filmes que representam muito bem a Sétima Arte, geralmente são aqueles que continuam navegando em nossa cabeça até mesmo dias depois de termos assistido. Elefante é assim, não por ser perfeito na reconstituição da tragédia em Columbine - acontecimento em que se baseia a película - pelo contrário, pois este não é um simples documentário, mas sim por nos mostrar uma brutalidade crua, que por mais que tentemos, não encontraremos justificativas.

Gus Van Sant, o diretor, foi muito feliz na montagem da obra. Retratou alguns dias comuns em uma escola cheia de alunos também comuns. Professores, que talvez tenham se perdido no “meio”esquecendo do “fim”, grupos de alunos reunidos por preferências, ou separados por indiferença, tarefas escolares, brincadeiras, conflitos, Bullying, ou seja, uma escola tão comum quanto qualquer outra norte-americana, ou melhor, em qualquer lugar do mundo. 

A narrativa do filme não tentou se afastar do objeto com intuito de, a partir de uma visão geral e ampla, apontar as possíveis causas que levaram àquela tragédia, ou tentar compreender aqueles acontecimentos de forma tão clara quanto o ato de reconhecer um elefante em uma sala de estar. Não, a narrativa partiu de cada personagem, sejam eles autores ou vítimas: detalhes do cotidiano, angústias, medos, hobby, interesses que revelavam cada vez mais um grupo de adolescentes... comuns.

Como é de costume, após a tragédia os “especialistas” logo apontaram, e continuam apontando, os motivos que levaram Eric e Alex ( no ataque real a escola foram Eric Harris e Dylan Klebold ) a planejarem a invasão e ataque a própria escola onde estudavam, diriam os especialistas: dificuldade de interação com os demais, Bullying, facilidade de comprar armas, games violentos, a sociedade, etc. Mas, Gus Van Sant não quis saber de nada disso, mesmo trazendo tudo isso para o filme, o diretor premiado em Cannes por esta mesma obra, nos mostra a beleza  de dias comuns entrecortada pela brutalidade de um dia que ficou para a história. O filme não tenta explicar nada, não é um documentário, e sim um triste retrato que infelizmente se repetiu outras vezes em outras escolas pelo mundo afora.


Título original: (Elephant)
Lançamento: 2003 (EUA)
Direção: Gus Van Sant
Atores: Alex Frost, Eric Deulen, John Robinson, Elias McConnell.
Duração: 81 min
Gênero: Drama
   

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Esposa de Mentirinha


-Acabou. Assino o divórcio em dois dias. (Danny)
- Quero ouvir dela. (Palmer)
-o quê ? (Danny)
- Quero conhecê-la, sua esposa. (Palmer)


Os últimos trabalhos de Jenifer Aniston não foram nada estimulantes, talvez a exceção seja o simpático Marly e Eu. Ainda assim esta é uma atriz bastante requisitada para estrelar comédias românticas: sim, estas que a cada lançamento só fazem perder a graça! 

Do outro lado está um autor que até possui mais créditos para queimar: Adam Sandler. Se seus últimos filmes não foram estrondosos sucessos, de qualquer forma ainda conseguem nos proporcionar algumas risadas, muitas vezes sinceras.  

Eis que então resolvem juntar em um filme estas duas figurinhas carimbadas do mundo da comédia, qual seria o resultado? Seu fracasso ou sucesso dependeria exclusivamente de uma boa história, pois eles possuem capacidade de fazer graça. Porém faltaram justamente a boa história, a direção e o roteiro, assim o resultado de Esposa de Mentirinha não poderia ser outro: uma sucessão de diálogos fracos, raríssimos lampejos de graça nas cenas que pretendiam ser engraçadas, um roteiro perdido na metade do filme, enfim o casamento de Aniston e Sandler, pelo menos desta vez, não deu certo.

Danny Maccabee (Adam Sandler), um bem sucedido cirurgião plástico, sempre fazia uso das mentirinhas para conquistar as mulheres, até que um dia quase foi desmascarado, sendo obrigado a se afundar ainda mais na mentira. Com objetivo de convencer a jovem Palmer (Brooklyn Decker) que a aliança no bolso de sua calça era de um casamento já em fase de divórcio, Danny convida sua secretária, Katherine (Jennifer Aniston) e seus filhos Bart (Griffin Gluck) e Kiki Dee (Bailee Madison) para serem os personagens desta história inventada:  eles se passariam por  esposa e filhos deste suposto casamento que já estaria no fim. E o que já era esperado acontece: a todo instante Danny se mete em situações engraçadas e constrangedoras para evitar que sua farsa seja descoberta, ao mesmo tempo em que cede as chantagens dos pirralhinhos.  

Nem mesmo a presença de Nicole Kidman interpretando Devlin, a amiga de faculdade de Katherine, foi suficiente para salvar o filme cheio de piadas no estilo já batido da dupla Sandler e Dennis Dugan, o parceiro e diretor do filme. Para os marmanjos restam apenas acompanhar a boa forma e as curvas de Brooklyn Decker e Jennifer Aniston nas cenas em que exibem seus pequeninos biquínis. 

Enfim, diferentemente do Danny Maccabee, não mentirei a vocês: o filme é fraquinho mesmo.


Título original: (Just Go With It)
Lançamento: 2011 (EUA)
Direção: Dennis Dugan
Atores: Adam Sandler, Jennifer Aniston, Nicole Kidman, Bailee Madison, Griffin-Gluck.
Duração: 107 min

sábado, 11 de fevereiro de 2012

J. Edgar

- Está na hora de esta geração aprender a diferença entre vilão e herói. (J. Edgar)


O FBI (Federal Bureau of Investigation) nem sempre teve o poder e fama que tem hoje, foram necessários vários anos para que se tornasse o que é atualmente. E a evolução de uma pequena e desacreditada agência de investigação para a maior agência policial do mundo deve exclusivamente a J. Edgar. Distanciamento dos interesses políticos, desenvolvimento da técnica baseada na ciência, antecipação, e como não, adoção de métodos eticamente condenáveis, como arquivamento de informações comprometedoras de pessoas poderosas da política norte americana, estes foram alguns dos métodos do primeiro e mais importante diretor do FBI.

Clint Eastwood prova mais uma vez que sabe contar uma história como poucos. O filme não trata apenas da carreira vitoriosa de Edgar - muito bem interpretado por Leonardo DiCaprio - ou da formatação do FBI, mas enfoca também o delicado relacionamento entre Edgar e seu assistente Clyde Toslon, na pele do bom Armie Hammer. Reprimindo a todo custo seus sentimentos pelo colega de trabalho, Edgar sofria entre a educação conservadora da mãe (Judi Dench) e o forte desejo pelo amigo. 

Edgar se equilibra entre o herói e o tirano. Meticuloso na sua luta contra comunistas, gangster, sequestradores e toda sorte de criminosos, o diretor não media esforços para alcançar seus objetivos: discursos inflamados a congressistas, propagandas em caixas de cereais, intimidação de presidentes, etc. Não foi por acaso que acompanhou o mandato de oito presidentes norte americanos durante as quatro décadas que dirigiu o Bureau mais importante do mundo. Como conseguiu? Talento, competência e quem sabe, também graças ao seu lado tirano.

Este é um filme que premia a impecável direção de Clint Estwood, o talentoso trabalho de DiCaprio e do coadjuvante Hammer, além de revelar interessantes aspectos não tão populares da história americana. Um delicioso passatempo para os cinéfilos.


Título original: (J. Edgar)
Lançamento: 2012 (EUA)
Direção: Clint Eastwood
Atores: Leonardo DiCaprio, Armie Hammer, Naomi Watts, Josh Lucas.
Duração: 137 min
Gênero: Drama

O Porco Espinho


- Ela não me reconheceu ...  não me reconheceu. (Reneé)
- Se ela não lhe reconheceu é porque nunca te viu.  (Kakuro)


Paloma (Garance Le Guillermic) é uma menina que logo completará doze anos, bastante inteligente e amante da arte, esta garota decide que quando completar doze anos iria se matar, talvez porque não houvesse mais nada na vida por qual valesse a apena.  Enquanto isso, durante aqueles poucos dias que lhe restavam faria um filme mostrando a vida vazia de sua família burguesa.

Plenamente decidida, Paloma vez ou outra planejava uma forma de morrer: pular de uma janela, ataque do coração, perfuração de faca no abdômen, porém, apesar de todas estas idéias ela já sabia mesmo como seria, por isso retirava diariamente um comprimido do arsenal de antidepressivos que a mãe consumia. 

Ninguém naquela família lhe despertava interesse ou admiração, a não ser como objetos e personagens para o filme que estava fazendo: a mãe fazia análise a dez anos, mesmo período que passou a consumir medicamentos e bebidas descontroladamente, além de conversar diariamente com as plantas; o pai era um burocrata, funcionário público do alto escalão sempre a mercê dos joguetes políticos; a irmã mais velha era apenas uma adolescente fútil e insensível, nada mais.

As únicas pessoas naquele prédio que despertaram sua atenção foram: a zeladora Renée Michel (Josiane Balasko), e o novo morador: Kakuro Ozo (Togo Igawa). Renée é uma mulher de cinquenta e quatro anos que tinha como única companhia um gato. Quase sempre era invisível aos olhos dos moradores, mesmo que ás vezes este fosse seu real desejo.  Certo dia, ao levar o gato de Renée para dentro da casa, Paloma percebeu um livro aberto em cima da mesa ao lado de um tablete de chocolate e uma xícara de chá. Aquela menina admirou-se então pela possibilidade daquela zeladora ser uma leitora de livros tão densos e interessantes. Paloma só teve tempo de filmar o livro e sair rapidamente da casa antes que alguém surgisse. Nos próximos dias Paloma se dedicaria então a se aproximar de Renée, quem em sua opinião parecia ter encontrado o esconderijo ideal: ser uma zeladora. 

Palmoa, Kakuro e Renée possuíam características em comum: a solidão e a capacidade de perceber o mundo de uma forma diferenciada, talvez menos ofuscada pelos problemas cotidianos. Pairando entre a busca e ao mesmo tempo fuga da morte, da solidão ou do amor, estes personagens - oriundos do romance A Elegância do Ouriço de Muriel Barbery - lhe proporcionarão um agradável passeio pela alma humana no que ela tem de mais bonito.  


Título original: Le Hérisson
Lançamento: 2009 (Françal)
Direção: Mona Achache
Atores: Garance Le Guillermic, Josiane Balasko, Togo Igawa
Duração: 100 min
Gênero: Comédia

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Recontagem


- Ron, eu não posso vencer, nem que eu vença, eu não posso vencer. ( Al Gore)


Sabemos que as eleições presidenciais norte americanas são realizadas de uma forma bastante diferente do sufrágio brasileiro. Lá não há uma eleição direta, ou seja, o presidente não é escolhido diretamente pelo voto da população, mas sim pelo voto dos delegados, estes sim escolhidos pelo cidadão. Cada Estado possui um determinado número de delegados, e o partido que obtiver maior número de votos no Estado terá direito a indicar seus delegados que,  teoricamente, garantirão o voto para o candidato do seu  partido. Enfim, quanto mais Estados o partido conseguir vencer mais delegados levará para a grande eleição final, assim estes Estados possuem um peso fundamental na escolha do presidente.

Não podemos esquecer ainda a liberdade que cada Estado possui para elaborar sua própria legislação eleitoral e sistema de votação: eletrônico, cédula, etc. Geralmente tudo ocorre bem na dita maior democracia do mundo, porém no ano 2000 ocorreu a maior crise eleitoral daquele país. G. W. Bush, Republicano e Governador do Texas disputava a Casa Branca com Al Gore, vice-presidente de Bill Clinton, do partido Democrata. 

O impasse ocorreu no Estado da Flórida. Inicialmente Bush foi dado como vencedor, porém as cédulas de papel, mal confeccionadas, levaram alguns idosos a supostamente votarem  no candidato errado, e como a diferença final de Bush para Al Gore foi muito pequena - 0,03% -  instalou-se a crise. Aquela altura quem saísse vitorioso na Flórida seria o presidente dos Estados Unidos.

Duas verdadeiras máquinas de guerras foram montadas, de um lado os defensores do Partido Democrata, liderados por Ron Klain (Kevin Spacey). Eles exigiam a recontagem dos votos, inclusive aqueles das cédulas em que os idosos se confundiram. Porém, precisavam de mais tempo, pois a eleição tinha um prazo para ser finalizada. É assim que os tribunais entram em cena, e percebemos que as interpretações das leis muitas vezes foram e são influenciadas pelo partidarismo dos juízes. 

Enquanto isso, do lado Republicano, James Baker (Tom Wilkinson) e seu comitê, lutavam também, seja nos tribunais, na imprensa, nas ruas, junto aos lobistas, da forma que conseguissem para evitar a recontagem dos votos, visto que Bush estava levando a Casa Branca.

Fatos reais muito bem recontados por Jay Roach, o diretor do filme. Cada elemento novo nos deixava boquiabertos quanto as incertezas que pairaram naqueles dias, visto as brechas, as falhas e as margens que se sucediam naquele sistema de votação tão frágil. Uma eleição daquela importância estava fixada em um sistema tão inseguro quanto areia movediça.  

Em ano de eleições presidenciais na terra da oportunidade este filme é imperdível.


Título original: (Recount)
Lançamento: 2008 (EUA)
Direção: Jay Roach
Atores: Kevin Spacey, Tom Wilkinson, Bob Balaban, Ed Begley Jr.
Duração: 116 min
Gênero: Drama

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Filha do Mal


-Qual é a emergência? ( Policial)
-Três... três pessoas (Maria Rossi)
- Senhora, qual é o problema? (Policial)
-Três pessoas estão mortas. Eu... matei... todas. (Maria Rossi)
- Senhora? Senhora? (Policial)


Estampar no cartaz do filme que o Vaticano é contra sua produção ou não aconselha que ninguém assista é uma forma de valorizar o longa, trazer curiosidade ou até mesmo espalhar um atmosfera de verdade na trama. Não é tática nova, aliás, ás vezes parece que agrada muito ao Vaticano cada vez que surge um filme relatando supostos exorcismos, pois assim, mantém o temor, o medo do diabo, do inferno nos cristãos, fazendo com que busuem sempre a proteção da Santa Igreja. É como o governo norte americano deixar vazar ameaças terroristas aos seus cidadãos, contribui para manutenção do clima de terror e medo, o que favorece e justifica qualquer medida adotada por parte daquele Estado mesmo que elas restrinjam a liberdade destes cidadãos. 

Porém, no caso deste filme não adiantou muitos supostos alertas do Vaticano, ou de quem quer que seja. É um filme previsível, não assusta, e abusa do mesmo roteiro já gasto: possessões, negação da Igreja Católica, exorcismo, padres convictos, padres medrosos, velhas e jovens se retorcendo em cima de uma cama, água benta, crucifixos, a bendita câmera na mão simulando um documentário e deixando o espectador tonto com tanto balançar, girar, focar. Para não dizer que não houve novidade, desta vez os padres carregam algumas parafernálias eletrônicas: medidor de batimento cardíacos e de pupila. É a tecnologia auxiliando os exorcistas!  

A brasileira Fernanda Andrade, interpreta Isabella Rossi, filha de Maria Rossi (Suzan Crowley), uma senhora que, em uma determinada noite, havia matado cruelmente três membros da Igreja Católica. Vinte anos depois, desconfiada pelo fato de sua mãe ter sido considerada insana e encaminhada para um manicômio em Roma, Isabella resolve investigar os fatos. Havia sido um surto psicótico ou seria um caso de exorcismo? Por que a Igreja Católica se preocupou tanto com este caso? Então, contrata Michael (Ionut Grama) para ser seu cinegrafista e sai em busca das informações necessárias. Como era de se esperar suas pesquisas a levam até Roma, onde conhece os padres David (Evan Helmuth) e Ben (Simon Quaterman), especialistas em exorcismo. É neste instante que somos invadidos pelo mesmo de sempre: descoberta de exorcismos sendo realizados por Padres sem a autorização da Igreja, meninas falando em outra língua, requebrando o corpo, pulando na cama, revirando os olhos, enfim, aquilo tudo que já sabemos.

O filme inicia com um atendente do serviço de emergência recebendo uma ligação de uma pessoa afirmando que havia matado três pessoas, é o suficiente para despertar a curiosidade do espectador, mas bastam alguns minutos para percebermos que não teremos muitas novidades. O início e o meio só não são piores do que seu final, um definitivo atestado de falta de criatividade.

Até mesmo os fãs deste gênero de filmes desaprovarão Filha do Mal.


Título original: (The Devil Inside)
Lançamento: 2012 (Estados Unidos)
Direção: William Brent Bell
Atores: Fernanda Andrade, Simon Quarterman, Evan Helmuth, Suzan Crowley.
Duração: 87 min
Gênero: Terror

sábado, 4 de fevereiro de 2012

2 Coelhos

- O que eu vou fazer? Justiça, matar dois coelhos com uma caixa d’água só. (Edgar)


Afonso Poyart, o diretor e roteirista, juntou os ingredientes certos na medida exata: roteiro, edição, montagem, trilha sonora e uma forte influencia do que mais tem de pop em Hollywood. Visualmente é bem interessante, atrai a nossa curiosidade e não decepciona. Certamente representará uma marca na história do cinema nacional, não por ter uma inconfundível qualidade dramática, mas sim por inaugurar nestas bandas um estilo que já não é mais novo entre os gringos.

Edgar(Fernando Alves Pinto), assim como a maioria dos brasileiros, é mais um cidadão que está entre os criminosos e os corruptos que vivem do Estado, enfim, outros criminosos. Após passar uma temporada forçada em Miami, Edgar volta para o Brasil disposto a por em funcionamento um audacioso plano: de uma única vez eliminar dois modelos de criminosos: assaltantes e políticos.

Walter (Caco Ciocler) também entra na trama, após perder a família em um trágico acidente de carro, acaba trabalhando no restaurante do pai de Edgar, mesmo que isto não seja bom para eles, na verdade Walter também tem seus planos. Júlia (Alessandra Negrini), a promotora, Henrique (Neco Villa Lobos), o advogado e um deputado corrupto (Roberto Marchese) são os bandidos  protegidos pelo Estado, enquanto Velinha (Thaíde ), Maicon (Marat Descartes)  e sua gangue são, pelo menos oficialmente, perseguidos pelo Estado.

O interessante é que, de uma forma ou de outra, todos estes personagens estão interligados, e a cada cena algo novo é revelado, enquanto Edgar opera seu mirabolante plano. Estas pequenas surpresas são pontos positivo do roteiro, além, é claro, das boas interpretações do elenco. E não poderia parecer mais com as produções de  Hollywood, visto que até uma ideia ética percorre o longa. O que não diminui a obra, pelo contrário, ás vezes é bom ver um cara metido a justiceiro no cinema, quem não se lembra do Capitão Nascimento?

Antes da despedida, e como confesso que sou um tanto devagar com trocadilhos, pergunto a alguém aí porque mesmo trocaram o termo “cajadada” para “caixa d’água”?


Título original: (2 Coelhos)
Lançamento: 2012 (Brasil)
Direção: Afonso Poyart
Atores: Fernando Alves Pinto, Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Aldine Muller.
Duração: 108 min
Gênero: Ação

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Os Prisioneiros da Honra

- O pânico na contra-inteligência foi tão grande naquela manhã que se tivessem amarrado uma caneta na pata de um cachorro e se este rabiscasse qualquer coisa, certamente seria condenado, claro, se fosse impopular ou mesmo um judeu.  (Picquart)


Há cerca de dez anos encontrei em um sebo uma verdadeira raridade, era o livro "Acuso! (O caso Dreyfus)", do famoso escritor Frances Emilio Zola, também autor do livro que mais me impressionara na graduação: "Germinal". O livro encontrado no sebo parece ser bem antigo, a única informação gráfica que possui refere se a editora Atlanta e nada mais. Esta obra me chamou atenção por dois motivos: 1)parecia e ainda parece ser rara; 2) todo estudante de História já ouviu falar do “Caso Dreyfus”. Claro que não perderia a oportunidade comprei o livro, mas confesso que ainda não terminei de lê-lo. Sua leitura não é tão atraente quanto sua fama.

Após assistir o filme Os Prisioneiros da Honra não poderia deixar de recordar do livro de Zola. O longa é mais uma tentativa de expor aqueles acontecimentos que na época inflamavam os ânimos de qualquer francês: o caso Dreyfus. Oficial de artilharia do exército Frances, Dreyfus foi acusado de ser um espião a serviço da Alemanha. Uma onda de nacionalismo e xenofobismo varria a Europa naqueles anos (aquele continente sofre deste mal há um longo tempo) e o fato de Dreyfus ser um judeu caiu como uma luva. Foi considerado responsável por ter escrito cartas aos alemães contando supostos segredos militares franceses. Após um processo judicial mal dirigido, e em nome da união do exército e da França, o judeu foi condenado a prisão perpétua  na Ilha do Diabo (Guiana Francesa). 

É daqui que começa o filme, alguns anos após o julgamento generais do exército Frances resolvem nomear um coronel para emitir um relatório sobre o caso, apenas um procedimento burocrático. E assim o coronel Picquart (Richard Dreyfuss) em contato com as frágeis provas do suposto crime percebia que não havia como aquele oficial ter sido condenado através de um julgamento justo, tudo não passava de uma fraude, um caso de preconceito e perseguição a um judeu, um “bode expiatório”. A partir deste instante Picquart objetivando defender a honra do exército francês busca então restabelecer a verdade, porém entra em conflito com seus superiores, sejam os Generais e até mesmo o Ministro da Guerra. Além, é claro, de contrariar a imensa maioria da população francesa desejosa de ver o judeu apodrecer na cadeia. 

Apesar de ser baseado em uma história real e por isso seu final já ser bem conhecido, ainda assim é impressionante acompanhar a luta do coronel Picquart em nome da honra do exército, mesmo que isto custasse sua divisão naquele instante tão delicado: final do século XIX quando a Grande Guerra batia as portas da Europa. Ao contrário do que muitos pensavam, não era por Dreyfus, o judeu, mas sim pelo exército, pela honra, pela França, pois ele sabia que maldades eram causadas por homens de bens em nome de seu país, mas o exército deveria caminhar sempre junto à honra e a verdade. 

Mesmo que você não aprecie muito a História, ou não tenha lido o livro de Emílio Zola, ou muito menos o livro "Prisioneiros da Honra", escrito por Charles Esterhazy, personagem fundamental nesta trama da vida real, ainda assim, vale acompanhar o que a historiadora Barbara W. Tuchman chamou de "uma das grandes comoções da história".

Título original: (Prisioners of Honor)
Lançamento: 1991 (Reino Unido)
Direção: Ken Russell
Atores: Richard Dreyfuss, Lingüeta de Oliver , Peter Firth, Jeremy Kemp, Brian Blessed , Kenneth Colley, Lindsay Anderson, Peter Vaughan
Duração: 88 min
Gênero: Drama